Introdução ao pensamento evolutivo- As teorias evolutivas

Antes de falarmos sobre as teorias evolutivas, precisamos ter em mente o que é EVOLUÇÃO. Muitas pessoas utilizam essa palavra em um contexto equivocado, como se evolução significasse melhoria de algo. Às vezes as pessoas não compreendem alguns processos biológicos da maneira correta por conta desse pensamento. Até um tempo atrás, utilizava-se por exemplo, a expressão plantas superiores quando se tratava das gimnospermas (plantas vasculares com sementes não protegidas por frutos) e angiospermas (plantas com sementes protegidas por frutos), como se fossem de alguma forma "melhores" que as briófitas (musgos) e pteridófitas (samambaias), mas isso já foi corrigido e hoje usamos a nomenclatura correta. Ou falava-se que o grupo x é mais evoluído que o grupo y, isso também é errado, não existe essa história de mais evoluído.

"EVOLUÇÃO significa mudança em seres vivos ao longo do tempo por meio de descendência com modificação" - Mark Ridley

Entende-se então que evolução significa mudança. Mas, o quê muda?

Nós mudamos no decorrer da nossa vida, tanto em forma quanto em comportamento, mas isso é evolução? NÃO. Isso se chama ontogenia, que é o DESENVOLVIMENTO de um INDIVÍDUO desde a concepção até a maturidade.

A evolução é mudança entre GERAÇÕES de uma linhagem de POPULAÇÕES. Vemos então que, um indivíduo não evolui, mas a população sim, devido a processos que ocorrem ao longo de gerações. 
Linhagem é uma série de populações ao longo do tempo.
População é uma grupo de organismos da mesma espécie que ocupa um mesmo lugar em um determinado tempo e trocam genes.

Agora que sabemos o que significa evolução, pelo menos no contexto biológico, vamos entender como se deu a origem desse pensamento, e como a evolução se tornou uma grande teoria da biologia.


Fixismo

Até o século XVIII o pensamento predominante era de que as espécies foram criadas cada uma à sua maneira com uma forma fixa e assim permaneciam para todo o sempre. A esse pensamento foi dado o nome de fixismo. Alguns naturalistas e filósofos já levantavam questões sobre a transformação de espécies, mas nenhum propôs uma ideia de como as espécies se transformavam. Eram apenas especulações.

Transformismo

O primeiro a propor um sistema teórico para explicar a transformação das espécies foi Jean-Baptiste Lamarck, no início do século XIX, em sua tese intitulada Philosophie Zoologique, e desse trabalho duas leis receberam maior destaque, que são:

  • Lei do uso e desuso: se um organismo usasse muito certo órgão ou parte de seu corpo, esse órgão se desenvolveria cada vez mais, caso não fizesse uso, o órgão atrofiava-se. Por exemplo, a língua do tamanduá, o fato dela ser muito comprida seria pelo constante uso dela na alimentação.
  • Lei da herança das características adquiridas: uma certa característica que um indivíduo adquirisse na sua vida, seria passada para as próximas gerações. Por exemplo, se uma pessoa praticasse muito exercício para ter músculos mais desenvolvidos, seus filhos também teriam músculos mais desenvolvidos.
Na época de Lamarck ainda não se tinha o conhecimento da genética, não se conheciam os processos de herança. Portanto era comum ter o tipo de crença defendido por ele. Hoje, sabemos que apenas alterações nas células germinativas são passadas para a próxima geração. Além de que o uso ou desuso de órgãos não altera o código genético que será passado para os descendentes.

Darwin e a teoria da seleção natural

Quando se fala em evolução a primeira pessoa que costuma vir ao pensamento é Charles Darwin (1809-1882). Ele formou suas ideias e formulou sua famosa teoria da seleção natural quando retornou de uma viagem pelo mundo à bordo do H. M. S. Beagle. Nessa viagem, Darwin ficou impressionado com as formas de vida de diversos lugares e o que chamava sua atenção era como as espécies eram tão adaptadas a cada tipo de local ou situação.
Um exemplo clássico são os tentilhões do arquipélago de Galápagos. Darwin percebeu que cada ilha do arquipélago tinha uma variação de tentilhão, e a possível explicação que ele encontrou foi que alguns indivíduos de uma população do continente teria migrado a muito tempo para essas ilhas, surgia aí a proposta de uma origem comum para as diferentes espécies de cada ilha. Mas como explicar por que as espécies variavam entre ilhas?
A explicação surgiu após Darwin ler Ensaio sobre populações de Tomas Malthus. No qual Malthus afirmava que a produção de alimentos cresce em escala aritmética, enquanto que a população humana cresce em escala geométrica, o que gera fome e competição por alimento. Darwin foi além da população humana e aplicou este pensamento às formas de vida na natureza. Darwin escreveu:

"... li por divertimento o Essay on Population e, estando preparado para apreciar a luta pela vida que acontece em todo lugar, graças à longa e contínua observação dos hábitos de animais e plantas, subitamente me ocorreu que, sob essas circunstâncias, variações favoráveis tenderiam a ser preservadas e variações desfavoráveis, a serem destruídas. O resultado disso seria a formação de uma nova espécie."

Assim a teoria da seleção natural foi sendo moldada. Darwin também fez alguns experimentos de seleção artificial, que é quando cruzamos organismos que tenham certa característica de interesse, assim os humanos moldavam algumas variedades de vegetais, novas raças de cães, cavalos etc., então Darwin se questionou se a natureza seria capaz de fazer essa seleção naturalmente, sem nenhuma intenção, diferente da seleção artificial feita pelos humanos.

De forma resumida, a seleção natural é a diferença na sobrevivência ou reprodução entre indivíduos que divergem em uma ou mais características. E deve ser entendida como um mecanismo evolutivo, que não tem finalidade ou intenção, por outro lado a seleção natural não é um processo aleatório. Na seleção natural, as variedades fenotípicas que são positivamente selecionadas são aquelas que aumentam a chance de sobrevivência e de sucesso reprodutivo. Hoje sabemos que a unidade de seleção não é apenas o organismo individual, mas podemos expandir essa escala para desde genes a porções maiores do genoma, populações de organismos e até mesmo espécies.

Vale ressaltar que apesar de Darwin ser muito reconhecido por propor a teoria da evolução, ele não foi o único a trabalhar para explicar a origem das espécies, outros naturalistas contribuíram para sua obra. Muito destaque deve ser dado também a Alfred Russel Wallace, que também fez algumas viagens ao redor do mundo, passou algum tempo na Amazônia e no arquipélago Malaio, ele fez excelentes observações e constatações nesses lugares sobre a diferenciação geográfica das espécies. Ele é conhecido como o pai da biogeografia. Darwin e Wallace mantinham contato através de cartas, nas quais trocavam ideias sobre a origem das espécies.

Uma das maiores críticas à teoria da evolução de Darwin foi que ele não conseguiu explicar como novas características surgiam e como eram transmitidas ao longo das gerações. Hoje conhecemos as leis de hereditariedade de Mendel, dentre outros conhecimentos de genética, mas Darwin não as conhecia na época, e vários cientistas não entenderam e não deram a devida importância para as leis de Mendel na época de sua divulgação. Foi só no início do século XX que os cientistas revisaram as leis de Mendel e começaram a entendê-las e viram que nelas estavam a explicação que faltava na teoria evolutiva proposta por Darwin, a união desses conhecimentos deu origem à teoria sintética da evolução.

A teoria sintética da evolução

É também conhecida por neodarwinismo, teoria sintética da evolução ou síntese moderna, foi concebida por R. A. Fisher, J. B. S. Haldane e Sewall Wright, conhecidos como pais da genética de populações.
A contribuição de cada um para a síntese moderna encontram-se nas suas grandes obras:

  • A teoria genética da seleção natural, 1930- Fisher
  • Evolução em populações mendelianas, 1931- Wright
  • As causas da evolução, 1932- Haldane
Seus trabalhos inspiraram outras pesquisas, que geraram material importantíssimo para a síntese moderna, como:
  • Genética e a origem das espécies, 1937- Theodosius Dobzhansky
  • Evolução: a síntese moderna, 1942- Julian Huxley
Segundo a síntese evolutiva, os principais fatores que atuam em uma população são mutação, recombinação genética, migração, seleção natural e deriva genética. Comentaremos brevemente sobre cada um dos fatores pois todos eles merecem um post específico para melhor explicação.

Mutações

São tidas como as fontes primárias da variabilidade. Ocorrem ao acaso e, por seleção natural podem ser mantidas na população quando conferirem vantagens adaptativas (seleção positiva), ou podem ser deletadas da população, no caso de não conferir valor adaptativo (seleção negativa). Há também as mutações neutras, que podem ocorrer tanto em células somáticas quanto em células germinativas, quando ocorrem nas células germinativas é de grande importância para a evolução, pois assim são transmitidas para os descendentes.

Recombinação genética

Ocorre quando há troca de material genético entre os organismos (por fecundação cruzada) ou no organismo (autofecundação) no momento da reprodução. Esse fator aumenta a variabilidade genética nas populações, isso é vantajoso pois aumenta a chance de sobrevivência da população em caso de mudanças no meio em que vivem.

Migração

É o movimento de indivíduos entre populações, geralmente associada à busca por melhores condições de vida. Se um indivíduo de uma população chega em uma outra população (imigração) e se reproduz, ele aumenta a variabilidade genética na população em que ele chegou, pois ele pode conter formas diferentes de genes (alelos) que não existiam nessa população. Por outro lado, quando um indivíduo sai de uma população (emigração) pode haver redução da variabilidade genética. A migração permite que exista fluxo gênico entre populações, diminuindo as diferenças genéticas entre elas.

Seleção natural

A seleção natural atua sobre os fenótipos, que resultam da interação entre genótipos e meio. Na seleção  natural as características que aumentam as chances de um indivíduo chegar à fase adulta e se reproduzir são favorecidas. Esse sucesso pode ser resultado de vários tipos de adaptação. Pode-se dizer então que a seleção natural é uma consequência do fato de indivíduos com fenótipos diferentes terem sucesso reprodutivo distinto.

Deriva genética

Fator que reduz a variabilidade genética de forma aleatória, sem a menor relação com adaptações. Existem duas formas de deriva genética. A primeira é chamada efeito gargalo, que é a redução de uma população por eventos aleatórios, como uma catástrofe por exemplo, fazendo com que vários alelos sejam perdidos da população. O outro efeito é chamado princípio do fundador, que é o estabelecimento de uma nova população formada por poucos indivíduos que emigram de uma população original. Esses indivíduos terão apenas uma pequena fração da variabilidade genética da população original.

Bibliografia consultada:
RIDLEY, Mark. Evolução. Artmed Editora, 2009.
Lopes, Sônia Bio, volume 3 / Sônia Lopes, Sergio Rosso. -- 3. ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016.
Linhares, Sérgio Biologia hoje / Sérgio Linhares, Fernando Gewandsznajder, Helena Pacca. -- 3. ed. -- São Paulo : Ática, 2016.
Jarman, Catherine Evolução da vida --4. ed. -- São Paulo : Melhoramentos, 1992. -- (Prisma)

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